HISTÓRICO

 

Em 1966, quando os Laboratórios do Instituto de Geografia foram implementados, os estudos nas áreas da Geomorfologia e da Pedologia estavam agrupados no mesmo Laboratório. Em 1967, houve a separação das duas áreas e a constituição do Laboratório de Pedologia e Sedimentologia, tendo como seu primeiro coordenador o Prof. Dr. José Pereira de Queiroz Neto. Desde então, as atividades desenvolvidas pelo seu quadro de pesquisadores criou uma tradição dentro e fora do DG/USP, a qual se caracterizou sempre pelo espírito aberto e por novas abordagens e metodologias inovadoras, que envolveram desde as concepções de solos até os procedimentos de estudo e de representação cartográfica.  Todas privilegiam a interdisciplinaridade e as parcerias com equipes nacionais e internacionais, sobretudo com a França, através de convênios e intercâmbio de pesquisadores.

As temáticas desenvolvidas no Laboped por essas equipes valorizaram, num primeiro momento, a formação de pesquisadores doutores e mestres no domínio das relações Pedogênese e Morfogênese, que resultaram em diversos trabalhos sobre a questão do material de origem dos solos tropicais e a reconstituição histórica e geográfica (Cenozóica) das paisagens tropicais, havendo a produção de vários documentos cartográficos em média e grande escala, como as cartas geomorfológicas (Vale do Parateí-SP: 1:25.000; Carste de Lagoa Santa-MG: 1:50.000; São Pedro-SP: 1:50.000; Marília-SP: 1:100.000) e de formações superficiais (Marília-SP: 1:100.000), feitas em parceria com o CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique, França). Estes produtos foram apresentados no “Colóquio Interdisciplinar Franco-Brasileiro de Estudo e Cartografia de Formações Superficiais e suas Aplicações em Regiões Tropicais” (Foto 1), organizado pelo Laboped, em 1978.

No início dos anos 1980, foi estabelecida uma colaboração internacional CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior / COFECUB - Comité Français d’Évaluation de la Coopération Universitaire et Scientifique avec le Brésil (projeto 35/80, renovado em 1987 como 35/87) entre o Laboratório de Pedologia, representando o Departamento de Geografia (USP), e a École Nationale Supérieure Agronomique (Rennes), o Centre de Géomorphologie (Caen) e o Centre ORSTOM (Caiena). No contexto deste projeto, que contou com o apoio financeiro da Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, do CCInt-USP (Comissão de Cooperação Internacional) e do acordo CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa Científica do Brasil/CNRS, iniciaram-se estudos a respeito dos desequilíbrios biogeodinâmicos dos sistemas pedológicos tropicais, resultando no inventário e estudo de vários sistemas de transformação pedológica, de cartografia experimental detalhada, de estudos fisico-hídricos ligados a processos de erosão linear, de compactação, de assoreamento, entre outros, valorizando expressivamente o estudo morfológico das coberturas pedológicas por meio de levantamentos bidimensionais (topossequências), segundo os preceitos da Análise Estrutural da Cobertura Pedológica (Foto 2), proposta por René Boulet em 1978. Esta foi aplicada pioneiramente no Brasil, em Marília/SP, por dois integrantes do Laboped: Omar Neto Fernandes Barros, na sua dissertação de mestrado (1985), e Selma Simões de Castro, em sua tese de doutoramento (1989).

Entre 1990 e 2003, os membros do laboratório expandiram o uso da análise estrutural para outras áreas do tropical úmido brasileiro, no contexto de um novo projeto CAPES/COFECUB, denominado “Morfologia dos Sistemas Pedológicos Tropicais: relações com os funcionamentos hídricos e fertilidades”. Este novo projeto foi conduzido em diversas áreas testes, como a região de São Pedro (Foto 3), cujos estudos foram organizados no “Programa São Pedro de Pesquisa e Ensino”. Este, que redundou na produção de diversos trabalhos de graduação, dissertações, teses e artigos científicos, foi inicialmente coordenado por José Pereira de Queiroz Neto (Laboped/DG/USP) e Alain Ruellan (INRA - Institut National pour La Recherche Agronomique de Rennes, França) e, posteriormente, por Selma Simões de Castro e Rosely Pacheco Dias Ferreira, ambas do Laboped.

Do final dos anos 1990 até meados da década de 2010, novamente em parceria com colaboradores franceses (CNRS) e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), foi criado o Projeto Pantanal (Foto 4), voltado para o estudo de vários aspectos dessa região tão particular do território nacional: cobertura pedológica, gênese das lagoas, cobertura vegetal, uso da terra, química da água e a dinâmica fluvial. Inicialmente coordenado por Queiroz Neto, o projeto foi financiado pelo CNPq, e permitiu uma duradoura cooperação com Arnaldo Sakamoto (UFMS) e Laurent Barbiero (Institut de Recherche Pour Le Developpement). Em sua segunda fase, a partir de 2009, o projeto passou a ser coordenado por Sonia Furian (Laboped), contando com financiamento da Fapesp. Este projeto redundou no preenchimento de uma série de lacunas de conhecimento nos temas mencionados, além de ter proporcionado a formação de inúmeros pesquisadores e docentes.

Desde os anos 2010, as pesquisas das relações entre as formas e os materiais conduzidas no Laboped têm introduzido novas temáticas e técnicas para, juntamente com a Análise Estrutural da Cobertura Pedológica, elucidar a gênese das paisagens tropicais. Nesse contexto, foram criados dois novos projetos em São Pedro: “Evolução Geomorfológico-Pedológica de Sopés de Escarpas de Cuesta no Estado de São Paulo (Processo Fapesp 2016/08722-3)” e “Neotectônica da região da serra de São Pedro e arredores (Processo Fapesp 2017/14791-0 )”, ambos coordenados por Fernando Nadal Junqueira Villela (Laboped e Labogeomorfo). Estes projetos, ainda em andamento e que proporcionaram uma expressiva melhoria da infraestrutura do Laboped, têm buscado elucidar questões ainda em aberto acerca da origem da cobertura arenosa do glacis de São Pedro (Foto 5), a evolução pedo-geomorfológica deste compartimento de relevo como um todo, e a influência tectônica nesta dinâmica. Os projetos em questão viabilizaram, ainda, uma nova cooperação internacional (Foto 6) com os professores Francesco Salvini (Università Degli Studi Roma Tre) e Paola Cianfarra (Università Degli Studi di Genova), ambos da Itália, especialistas no estudo da tectônica recente.

Finalmente, destaca-se o momento atual do Laboped, que, honrando a sua tradição de pluralidade e liberdade, tem introduzido novas linhas de pesquisa, relacionadas ao estudo dos solos urbanos (Foto 7), sistemas agroflorestais e as relações entre os solos e populações tradicionais (Foto 8).